quinta-feira, 22 de abril de 2010

Rede Social não é nenhuma novidade

Por Bruno Lessa*


"Estamos investindo em redes sociais". Se você acompanha o mercado publicitário, é bem provável que já tenha ouvido este discurso que está cada vez mais presente na boca dos executivos de marketing e comunicação. Será isto uma estratégia, moda ou tendência?

Seja qual for a melhor tradução do momento atual, o fato é que as redes sociais, da forma como são vistas hoje, já caíram no gosto dos internautas (especialmente os brasileiros) e têm despertado grande interesse nas empresas, que estão enxergando nelas um bom lugar para falar de seus produtos e serviços de forma diferenciada. Poder usar um canal gratuito, eficiente, falar a língua do consumidor e ainda ter a oportunidade da mensagem ser multiplicada espontaneamente é de fato tentador, mas o que muitos não têm visto é a essência disso tudo. As empresas e agências, em sua maioria, têm enxergado rede social como "mídia inovadora", enquanto na verdade é algo bem antigo.

Em primeiro lugar temos que ter a noção de que redes sociais não são apenas sites como Orkut, Facebook, Twitter e afins. Segundo o teórico austríaco Fritjof Capra, um dos primeiros a definir o tema, "redes sociais são redes de comunicação que envolvem a linguagem simbólica, os limites culturais e as relações de poder". São redes de pessoas que se conectam por afinidade em determinado assunto. É natural do ser humano se dividir em grupos. Partidos políticos, religiões, times de futebol... Tudo são formas de expressão em que as pessoas se relacionam por um tema comum. São redes sociais, comunidades, o que não é nenhuma novidade.

O que as pessoas chamam hoje de redes sociais na internet são na verdade aplicativos que espelham um comportamento humano tão antigo quanto nossa própria existência: o desejo de se expressar e de se relacionar. O que a tecnologia tem trazido de valioso é a capacidade de fazer isso remotamente e de fazer a mensagem ecoar cada vez mais distante.

Investir em redes sociais não é criar um perfil em cada site novo que aparece, e sim se abrir para o diálogo com os mais diversos públicos que possam fazer parte do negócio, e isso pode (e deve) ser feito tanto online quanto offline. Portanto, antes de pensar em rede social como mídia, pense em rede social como grupo de pessoas. Pessoas que possuem desejos e necessidades, que são movidas por paixões e ideais, que não querem apenas ouvir, mas que também querem falar. Pessoas que, por trás de toda uma parafernália eletrônica, são simplesmente pessoas. Só assim a mensagem será genuína e irá cumprir o verdadeiro objetivo da comunicação.

* Bruno Lessa é publicitário e pós-graduado em marketing pela USP. É diretor da Marketing SIM e idealizador do portal Vitrine Publicitária



(Envolverde/Pauta Social)

Globo se curva ao poder dos blogs

Por Denise Ribeiro




A campanha pró-Serra que não deu certo.

Foi-se o tempo em que o jornalismo podia se gabar de sua imparcialidade. Nesta semana, uma guerra suja visando à corrida eleitoral esgarçou ainda mais a frágil capacidade da imprensa de se manter nos limites da credibilidade. Tudo começou no domingo à noite, quando a rede Globo exibiu no intervalo do Fantástico – seu programa de maior audiência junto à família brasileira – a campanha em que comemorava seus 45 anos.

Problema nenhum, não fossem o 45 e o fundo azul em que foi exibido, o número e a cor do PSDB. Número, inclusive, que constará da cédula eleitoral para a escolha do próximo presidente do Brasil. Alguém duvida de que, nos domínios do plim-plim, o propósito da campanha era apenas celebrar o aniversário da casa? Se duvidasse, bastava acessar no YouTube a campanha global e se chocar com os vídeos relacionados (a barra de sugestões sob o filmete): todos remetiam a falas do Serra.

Não vou nem me estender sobre a “forcinha” subliminar à campanha do PSDB, com os globais recitando mensagem semelhante ao slogam do pré-candidato tucano que é “o Brasil pode mais”.

Confesso que eu, inocente e bobinha – e meio que dormitando no sofá da sala na hora do Fantástico –, não reparei na insidiosa jogada de mestre. Vamos e venhamos, a Globo é mestre em marketing, idéias, acabamento, sofisticação, tecnologia, recursos gráficos, persuasão. Por sorte, gente mais desperta (e esperta) do que eu, e já calejada pelas campanhas difamatórias e antipetistas que infestam nossa mídia tradicional há 20 anos, botou a boca no trombone.

Na segunda-feira, dia 19, a internet fervilhava com trocas de emails, links de blogs e posts no Twitter. Todo mundo indignado com tanta desfaçatez. O jornalista Luiz Nassif saiu na frente, escancarando todo o esquema em seu blog. Até terça-feira à noite havia registrado 318 comentários, que incluíam alguns defensores “do direito da Globo de festejar seus 45 anos”.

Um deles tocou no ponto crucial, soterrado pelo calor da hora: trata-se de uma intromissão sem cabimento, no processo eleitoral brasileiro, feito por uma concessionária de serviço público, que tem obrigação de ser isenta e apartidária.

No seu excelente blog “Vi o mundo”, outro jornalista de primeira, Luiz Carlos Azenha, faz uma retrospectiva do poder de manipulação da grande imprensa, em favor de tucanos, Collor e quetais. Um primor as capas que ele selecionou de Veja e sua reflexão sobre esse tipo de golpe, que com 20 anos de prática, virou tradição na mídia brasileira.

A novidade veio, enfim, no final de noite, quando a retirada do ar da malfadada campanha veio a público. Consta que um ator consagrado ligou para um diretor de núcleo da Globo, soltando cobras e lagartos, por causa do uso inapropriado de sua imagem e fala. Foram tantos os protestos por parte dos 40 profissionais que aparecem na peça promocional e tão negativa a repercussão, que a Globo acabou entregando os pontos, convencida de que tinha dado um tiro no pé. Quem contou com exclusividade essa história dos bastidores é outro jornalista, o Marco Aurélio Mello, em seu blog DoLadoDeLá, cujo post foi reproduzido ontem, dia 20, pelo Nassif.

O mais empolgante em toda essa discussão é a certeza de que a internet virou um canal de expressão irrefreável e bastante efetivo. As redes sociais estão com tudo, os jornalões diários perdem mais público a cada dia, assim como as revistas semanais, por causa de sua falsa postura “democrática”. Enquanto insistirem nessa abordagem editorial vergonhosa, continuarão a ser vistos com desconfiança e a jogar a própria credibilidade no lixo.

Confira os posts originais:

http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2010/04/19/a-campanha-explicita-da-globo/

http://www.viomundo.com.br/opiniao-do-blog/esse-post-e-proibido-para-quem-tem-mais-de-30-anos-de-idade.html

http://maureliomello.blogspot.com/2010/04/os-bastidores-do-quase-golpe.html



(Envolverde/O autor)