Por Denise Ribeiro
A campanha pró-Serra que não deu certo.
Foi-se o tempo em que o jornalismo podia se gabar de sua imparcialidade. Nesta semana, uma guerra suja visando à corrida eleitoral esgarçou ainda mais a frágil capacidade da imprensa de se manter nos limites da credibilidade. Tudo começou no domingo à noite, quando a rede Globo exibiu no intervalo do Fantástico – seu programa de maior audiência junto à família brasileira – a campanha em que comemorava seus 45 anos.
Problema nenhum, não fossem o 45 e o fundo azul em que foi exibido, o número e a cor do PSDB. Número, inclusive, que constará da cédula eleitoral para a escolha do próximo presidente do Brasil. Alguém duvida de que, nos domínios do plim-plim, o propósito da campanha era apenas celebrar o aniversário da casa? Se duvidasse, bastava acessar no YouTube a campanha global e se chocar com os vídeos relacionados (a barra de sugestões sob o filmete): todos remetiam a falas do Serra.
Não vou nem me estender sobre a “forcinha” subliminar à campanha do PSDB, com os globais recitando mensagem semelhante ao slogam do pré-candidato tucano que é “o Brasil pode mais”.
Confesso que eu, inocente e bobinha – e meio que dormitando no sofá da sala na hora do Fantástico –, não reparei na insidiosa jogada de mestre. Vamos e venhamos, a Globo é mestre em marketing, idéias, acabamento, sofisticação, tecnologia, recursos gráficos, persuasão. Por sorte, gente mais desperta (e esperta) do que eu, e já calejada pelas campanhas difamatórias e antipetistas que infestam nossa mídia tradicional há 20 anos, botou a boca no trombone.
Na segunda-feira, dia 19, a internet fervilhava com trocas de emails, links de blogs e posts no Twitter. Todo mundo indignado com tanta desfaçatez. O jornalista Luiz Nassif saiu na frente, escancarando todo o esquema em seu blog. Até terça-feira à noite havia registrado 318 comentários, que incluíam alguns defensores “do direito da Globo de festejar seus 45 anos”.
Um deles tocou no ponto crucial, soterrado pelo calor da hora: trata-se de uma intromissão sem cabimento, no processo eleitoral brasileiro, feito por uma concessionária de serviço público, que tem obrigação de ser isenta e apartidária.
No seu excelente blog “Vi o mundo”, outro jornalista de primeira, Luiz Carlos Azenha, faz uma retrospectiva do poder de manipulação da grande imprensa, em favor de tucanos, Collor e quetais. Um primor as capas que ele selecionou de Veja e sua reflexão sobre esse tipo de golpe, que com 20 anos de prática, virou tradição na mídia brasileira.
A novidade veio, enfim, no final de noite, quando a retirada do ar da malfadada campanha veio a público. Consta que um ator consagrado ligou para um diretor de núcleo da Globo, soltando cobras e lagartos, por causa do uso inapropriado de sua imagem e fala. Foram tantos os protestos por parte dos 40 profissionais que aparecem na peça promocional e tão negativa a repercussão, que a Globo acabou entregando os pontos, convencida de que tinha dado um tiro no pé. Quem contou com exclusividade essa história dos bastidores é outro jornalista, o Marco Aurélio Mello, em seu blog DoLadoDeLá, cujo post foi reproduzido ontem, dia 20, pelo Nassif.
O mais empolgante em toda essa discussão é a certeza de que a internet virou um canal de expressão irrefreável e bastante efetivo. As redes sociais estão com tudo, os jornalões diários perdem mais público a cada dia, assim como as revistas semanais, por causa de sua falsa postura “democrática”. Enquanto insistirem nessa abordagem editorial vergonhosa, continuarão a ser vistos com desconfiança e a jogar a própria credibilidade no lixo.
Confira os posts originais:
http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2010/04/19/a-campanha-explicita-da-globo/
http://www.viomundo.com.br/opiniao-do-blog/esse-post-e-proibido-para-quem-tem-mais-de-30-anos-de-idade.html
http://maureliomello.blogspot.com/2010/04/os-bastidores-do-quase-golpe.html
(Envolverde/O autor)
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